terça-feira, 17 de setembro de 2013

Juventude: A utopia da onipotência


A adolescência é uma fase extremamente difícil da vida. Talvez a mais difícil. Temos que nos comportar como adultos sem dispor de cacife para isso. Temos que ser fortes e independentes quando ainda nos sentimos inseguros e sem autonomia de vôo. Temos que mostrar autoconfiança sexual, mesmo sendo totalmente inexperientes. Temos que formar um juízo a nosso respeito - se possível positivo -, mas nos falta a vivência para aprofundar o autoconhecimento. Enfim, temos que ser ousados e corajosos, embora a cada passo surja o medo para nos inibir.

O que fazer? Frente a tantas incertezas, acabamos seguindo os modelos sugeridos pela própria cultura. Passamos a imitar nossos heróis, travestindo-nos de super-homens e de mulheres-maravilha. Assim, encobrimos nossas dúvidas e inseguranças. Elas que sejam reprimidas e enviadas para o porão do inconsciente. Nós seremos os fortes e destemidos, para nós nada de errado ou ruim irá acontecer. Construímos uma imagem de perfeição, de criaturas especiais, particularmente abençoadas pelos deuses. Resultado: sentimo-nos onipotentes e, a partir daí, não há coisa no mundo que possa nos aterrorizar, uma vez que estamos revestidos de proteções extraordinárias.

Este estado de graça irá perdurar por um tempo variável. É um período bastante complicado para as pessoas que convivem com o jovem, pois ele sabe tudo, faz tudo melhor, acha todo o mundo alienado e burro. Só ele é competente e sábio. No entanto, para o próprio jovem, a fase parece muito positiva. Ele, finalmente, se sente bem, forte, seguro e não tem medo de experimentar situações novas. Pode montar o cavalo mais selvagem com a certeza absoluta de que não cairá em hipótese alguma. Mais tarde, quando não for mais tão ousado e confiante, se lembrará dessa época da vida como a mais feliz. Afinal de contas, a sensação de euforia é sempre inesquecível.

Na verdade, ninguém teria nada contra a onipotência, se ela correspondesse à realidade. Porém, não é isso que os fatos nos ensinam. Sabemos que, entre os jovens, são exatamente os mais confiantes aqueles que se envolvem em todo tipo de acidentes graves, quando não fatais. São estes jovens que dirigem seus carros na estrada, durante a madrugada, com o pé na tábua. Não sentem medo porque é óbvio que os pneus não irão estourar e é lógico que não irão adormecer ao volante. São estes jovens que saem de uma festa e, alcoolizados, vão a toda a velocidade para a praia. Sua imortalidade só é desmentida por um acidente fatal. Aliás, para ser sincero, parece incrível que não ocorra um maior número de acidentes.

Alguns jovens, onipotentes e filhos diletos dos deuses, andam de motocicleta sem capacete. Desafiam a chuva e o asfalto molhado, depois de usarem tóxicos ou ingerir álcool. Fazem curvas super perigosas. Não se intimidam porque para eles nada de mal irá acontecer. E morrem ou ficam paralíticos, interrompendo vidas que poderiam ser ricas e fascinantes. Estes mesmos jovens utilizam drogas em doses elevadas porque se julgam imunes aos riscos da overdose e suas graves conseqüências. Chegam a compartilhar seringas, ao injetar tóxicos na veia, pois é claro que não terão AIDS. E, pela mesma razão, continuam a ter relações sexuais com parceiros desconhecidos, sem sequer tomar o cuidado de usar camisinha.

Aqueles que não morrem ou não ficam gravemente doentes, um dia acordam desse sonho em que flutuavam em estado de graça. Acordam porque lhes aconteceu algo: aquele acidente considerado impossível. Caíram do cavalo. Eles também são mortais! Então, tomam consciência de toda a insegurança e de toda a fragilidade que os levaram a construir a falsa armadura da onipotência. Ao se tornarem criaturas normais, sentem-se fracos. Antes era muito melhor. Sim, mas era tudo mentira. Agora, o mundo perdeu as cores vibrantes da fantasia. Vestiu os meios-tons da realidade. Eles não conseguiram domar o cavalo selvagem e foram derrubados no chão. Terão de aprender a cair e se levantar. Terão de aprender a respeitar mais os cavalos! Terão de saber que todas as doenças, todos os acidentes, todas as faltas de sorte poderão persegui-los. E - o que é mais importante - terão de enfrentar com serenidade a plena consciência de que são vulneráveis. Este é um dos ingredientes da maturidade: ter serenidade na viagem da vida, mesmo sabendo que tudo pode nos acontecer.

Flávio Gikovate
Postagem: José Evânio



ATIVIDADE 3 - 3° BIMESTRE - INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

1- No 1° parágrafo, é empregada a1ª pessoa do plural como “Temos que nos comportar como adultos” . A quem o autor se refere, ao empregar a 1ª pessoa?

2 - O 1° parágrafo passa a ideia que cada um de nós tem que se comportar como adulto. Por que esse comportamento é exigido socialmente?

3 - Releia o 2°  e 3° parágrafos:
a) Que relação o autor estabelece entre o sentimento de onipotência dos jovens e os modelos culturais?
b) Como é para a família conviver com essa realidade?

4 - Leia o 4° parágrafo:
a) A onipotência é positiva ou negativa? Por que?
b) Qual sua opinião sobre alguém que acha que pode tudo?

5 - Na afirmação "Alguns jovens, onipotentes e filhos dos deuses" o autor faz uso da ironia.Que efeito de sentido causa no texto?

6 - No último parágrafo o autor compara a vida a uma viagem,
a) É fácil para o viajante abandonar o "estado de graça"? Por que?
b) De acordo com o texto, qual é o requisito para fazer a "viagem da vida" de modo tranquilo?

7 -  O texto tem como finalidade principal:
a) Orientar os pais sobre como envelhecer e como lidar com os filhos.
b) Explicar o que ocorre psicologicamente com os jovens adolescentes.
c) Informar cientificamente o que ocorre com os adolescentes.
d) Instruir pais e filhos sobre como devem agir nesse período da adolescência.

8 - O autor do texto considera difícil a fase de iniciação à vida adulta.
a) Qual a sua opinião sobre o assunto? Ser adolescente é dífícil? Por que?
b) Na sua opinião, é possível fugir a pressão da sociedade quanto aos padrões de comportamento desejados? Como?

9 - Você se sente onipotente? Em quais momentos?

10 - Você conhece alguém vítima de sua própria onipotência? Conte como foi e as consequências desse fato.

11 - Na sua opinião, de que forma o jovem pode combater a sedução da onipotência?

12 - O texto dá dois exemplos de consequências desastrosas, para o jovem, quais são esses exemplos?

13 - Você ja passou por alguma situação de perigo? Conte em algumas linhas.

14 - Faça uma texto com o tema "Os Problemas do Trânsito"
20 linhas (para destacar e entregar)