A ambiguidade é um dos problemas que podem ser evitados na
redação. Ela surge quando algo que está sendo dito admite mais de um sentido,
comprometendo a compreensão do conteúdo. Isso pode suscitar dúvidas no leitor e
levá-lo a conclusões equivocadas na interpretação do texto.
A inadequação ou a má colocação de elementos como pronomes, adjuntos
adverbiais, expressões e até mesmo enunciados inteiros podem acarretar em duplo
sentido, comprometendo a clareza do texto. Observe os exemplos que seguem:
·
"O
professor falou com o aluno parado na sala"
Neste caso, a ambiguidade decorre da má construção
sintática deste enunciado. Quem estava parado na sala? O aluno ou o professor?
A solução é, mais uma vez, colocar "parado na sala" logo ao lado do
termo a que se refere: "Parado na sala, o professor falou com o
aluno"; ou "O professor falou com o aluno, que estava parado na
sala".
·
"A
polícia cercou o ladrão do banco na rua Santos."
O banco ficava na rua Santos, ou a polícia cercou o ladrão
nessa rua? A ambiguidade resulta da má colocação do adjunto adverbial. Para
evitar isso, coloque "na rua Santos" mais perto do núcleo de sentido
a que se refere: Na rua Santos, a polícia cercou o ladrão; ou A polícia cercou
o ladrão do banco que localiza-se na rua Santos"
·
"Pessoas que consomem bebidas alcoólicas
com frequência apresentam sintomas de irritabilidade e depressão."
Mais uma vez a duplicidade de sentido é provocada pela má colocação do adjunto
adverbial. Assim, pode-se entender que "As pessoas que, com frequência,
consomem bebidas alcoólicas apresentam sintomas de irritabilidade e
depressão" ou que "As pessoas que consomem bebidas alcoólicas
apresentam, com frequência, sintomas de irritabilidade e depressão"
Ambiguidade como recurso
estilístico
Em certos casos, a ambiguidade pode se transformar num
importante recurso estilístico na construção do sentido do texto. O apelo a
esse recurso pode ser fundamental para provocar o efeito polissêmico do texto.
Os
textos
literários, de maneira geral (como romances,
poemas ou
crônicas), são
textos com predomínio da linguagem conotativa (figurada). Nesse caso, o caráter
metafórico pode derivar do emprego deliberado da ambiguidade.
Podemos verificar a presença da ambiguidade como recurso literário analisando a
letra da canção "Jack Soul Brasileiro", do compositor Lenine.
Já
que sou brasileiro
E que o som do pandeiro é certeiro e tem direção
Já que subi nesse ringue
E o país do suingue é o país da contradição
Eu canto pro rei da levada
Na lei da embolada, na língua da percussão
A dança, a muganga, o dengo
A ginga do mamulengo
O charme dessa nação
(...)
|
Podemos observar que o primeiro verso ("Já que sou brasileiro")
permite até três interpretações diferentes. A primeira delas corresponde ao
sentido literal do texto, em que o poeta afirma-se como brasileiro de fato. A
segunda interpretação permite pensar em uma referência ao cantor e compositor
Jackson do Pandeiro - o "Zé Jack" -, um dos maiores ritmistas de
todos os tempos, considerado um ícone da história da música popular brasileira,
de quem Lenine se diz seguidor. A terceira leitura para esse verso seria a
referência à "soul music" norte-americana, que teve grande influência
na música brasileira a partir da década de 1960.
Na publicidade, é possível observar o "uso" da
linguagem plurissignificante, por meio dos trocadilhos e jogos de palavras.
Esse procedimento visa chamar a atenção do interlocutor para a mensagem. Para
entender melhor, vamos analisar a seguir um anúncio publicitário.
Sempre
presente
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Ferracini
Calçados
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O slogan "Sempre presente" pode apresentar, de início, duas leituras
possíveis: o calçado Ferracini é sempre uma boa opção para presentear alguém;
ou, ainda, o calçado Ferracini está sempre presente em qualquer ocasião, já
que, supõe-se, pode ser usado no dia a dia ou em uma ocasião especial.